Livro: Planejamento:
Escola, culturas e diferenças: experiências e desafios na educação básica (Cristiane
Gomes de Oliveira, Luiz Fernandes de Ferraz e Maria Cláudia de Oliveira Reis)
Idealizado por: Eunice
Maria, Gabriella Duarte, Jéssica Vasconcelos, Jullen Monteiro e Rosangela Rocha
Escola e identidades culturais na
educação básica
“Aqui
nessa escola não se faz oração, não, professora?”
A
perspectiva cultural da religião e da diferença no currículo.
Cristiane
Gomes e Rita de Cássia Frangella.
Este texto descreve como é tratada a
discussão a respeito da religião no cotidiano escolar do ensino fundamental. O
artigo não discute se deve ou não o ensino religioso compor o currículo
escolar, no entanto, argumenta como é a problemática de crianças que discutem a
respeito da religião, e estas crianças são de diversas idades e séries
escolares.
Apesar da temática da religião estar presente
no cotidiano escolar, são discutidas estratégias que abre diálogos entre
professor e aluno. Verdadeiramente o texto nos remete a entender os direitos à
diferença, não implicando na negação, mas no desafio da relação entre todos.
Aponta para interação verbal, ou seja, para a realidade fundamental da língua.
Percebe-se uma arena de luta para desenvolver
com as crianças seus raciocínios no que diz respeito à realidade interior dos
significados de diferentes religiões e doutrinas. Como sempre, temos como
dialogo do centro das atenções, a África, para cuja finalidade nos faz
mergulhar para sua cultura e religião, que sabemos, veio dos escravos com suas
biodiversidades, refletindo aspectos positivos nas diferenças e nos costumes.
As autoras Gomes e Frangella discutem como a
visão exótica e o sincretismo pode apontar para problemas de uma visão da
África daqui e de lá. Busca expor informações não isoladas sobre a raça,
gênero, sexo e religião, e por outro lado anuncia as diferenças de lugares e
formação.
Quando a religião transforma-se em discussão,
é porque trouxe à tona as diferenças de identidades de judeus e palestinos,
ocidente e oriente, mulçumanos e hindus, então começa a rivalidade em nome do
“Pai”, e o “Pai” se sujeita aos diversos nome que Ele tem. Contudo, o texto
revela que no dia 11 de setembro viu-se a guerra de terror trazendo posições
culturais à religião, existindo reformulações no campo religioso, e como o ser
humano é tolerante ou intolerante no espaço para grupos e identidades de
diversas religiões. Isso reflete a pluralidade e pluralismo que nos indicam nos
dias de hoje muitos brasis num só
Brasil.
Voltando ao cotidiano escolar, vemos o
confronto do conhecimento, do diferente e da necessidade que uma criança antes
de ser ingressa na escola, consente em dar sentido a sua trajetória, e mesmo
assim, não sai do seu universo, mas permite que a escola a ela se acrescente.
Ao notar as perguntas que os professores fazem de animais que já não estão em
nosso meio, as respostas das crianças se faz rapidamente assim: Foi Deus, ou
Papai do Céu, ou foi Jesus!
Assim o texto não enfatiza somente a
religião, mas também atitudes das crianças, quando outros alunos dizem que Deus
não existe, surgindo reações infantis de levar às mãos a boca, como se fosse
algo pecaminoso. Mas sabemos que não há erros, somente famílias que pensam
diferentes e isto deveram respeitar, ou mesmo quando há observação de crianças
que perguntam por que não se ora antes do lanche escolar.
Levando-se em conta o que foi observado,
passamos a entender a pluralidade, o pluralismo, religiões e culturas como
sendo o limiar da ambivalência nas dimensões pedagógicas, pois estabelece
diversas redes de conhecimento, provocando discussões que realizam a expressão
viva e o fascínio das crianças à respeito do todo.
“Minha
professora pede para eu ensinar jongo para ela.”
Processos indentitários e a mediação cultural.
Claudia Cristina dos Santos Andrade, Marcos Vinícius Bezerra
Carvalho e Renato de Alcântara
No primeiro tópico os autores trazem três
cenas ocorridas em cenários diferentes com elementos comuns. Ambas acontecem em
torno de uma roda de jongo. Eles iniciam o capítulo pelas cenas com o objetivo
de partilhar a vivência e principalmente refletir sobre a identificação e o
papel das mediações.
No tópico 2, “O jongo entre a tradição e a
reinvenção , trata do contexto histórico da prática do jongo. Que consiste numa
dança marcada pelo toque do tambor onde homens e mulheres pisam com o pé direito
acompanhando o ritmo com o corpo. É uma manifestação que transita entre os
campos do sagrado e o profano, oriunda dos povos bantu. Os principais elementos do jongo
são: o terreiro, a fogueira, o tambor, o canto e a dança.
Os
pontos ou jongos narram a trajetória e os processos de reconstrução identitária
dos afrodescendentes. Relatando momentos importantes da história das
comunidades, como o tempo do cativeiro, a abolição da escravatura e as
diferenças nas relações sociais.
No
terceiro tópico “Processos indentitários e
mediação cultural (Reconhecimento e Empoderamento), os autores tratam da
importância de se oferecer a criança o acesso
à diversidade de leituras e a uma
vivência das manifestações culturais o que possibilita uma disponibilidade do
olhar para o novo, alimentando a curiosidade e a criticidade.
Os
autores conheceram o Centro cultural Jongo da Serrinha, que desenvolve um
trabalho com crianças, a partir da prática do jongo, narrando costumes
ancestrais e marcas identitárias. A ONG Jongo da Serrinha que pertence ao
Centro Cultural, conta com uma escola que atende a aproximadamente cem crianças
oferecendo aulas gratuitas de canto, percussão, jongo, dança afro, capoeira,
cultura popular, teatro, artes plásticas e circo.
Através
desse movimento ocorre um resgate da narrativa jongueira, acrescentando ao
ritual a vivência de uma escola. Os autores percebem nas falas das crianças o
reconhecimento da tradição como marca identitária, o que contribui para um
processo de empoderamento, palavra que surge através de Paulo Freire. Para o
autor o empoderamento ocorre quando o individuo ou grupo, realiza por si mesmo,
as ações que o lavam a evoluir e fortalecer.
Assim
sendo essa criança assume sua identidade e manifesta essa ação de
empoderamento, assumindo sua condição e afirmando-a perante os outros. Não se
escondendo entre os processos de assujeitamento, que segundo Foucault
representa o processo típico das relações de poder.
(...) Se a palavra é/tem sido usada para apagar a
história de muitos e negar-lhes pertencimento é possível usá-la também para
narrar as muitas histórias de processos identitários, de alianças, de práticas.
(Passos e Carvalho, 2009).
“Preto
pra não dizer negro, que é esquisito.”
Polifonia
racista e construção de identidades de adolescentes pobres no Rio de Janeiro
Claudia
Hernandez Barreiros e Jonê Carla Baião
Em uma época onde vários casos de racismo foram expostos
na mídia, o texto aborda um caso de preconceito racial entre alunos em uma
escola municipal do Rio de Janeiro. Diferente do que muitos pensam que a
miscigenação poderia contribuir para o fim de qualquer tipo de preconceito, a
miscigenação contribui para criar e fortalecer o “mito da democracia racial”,
pois no fundo, há uma raça considerada “normal” pela sociedade e o que sai
dessa normalidade sofre.
O artigo
é também uma pesquisa realizada por um grupo de pesquisas do CAp/UERJ com a
colaboração de vários professores, sendo um desses a professora que esteve
presente no relato dos alunos do bairro da Tijuca-RJ. A professora que se
declara negra (do ponto de vista étnico-racial), presenciou o relato de um
aluno que contava que sua amiga de classe (que se declara negra do ponto de
vista étnico-racial) queria lançar uma cadeira em seu amigo (do ponto de vista
étnico-racial considera-se mulato) que classe que classificou seu cabelo como
“um cabelo que não voa na garupa da moto”.
Com base
nessa discussão, a professora de Língua Portuguesa pediu que os alunos
escrevesse um texto em que declarasse sua cor de pele e como desejaria que
fosse seu/sua futuro (a) namorado (a). O que pode ser analisado foi à intenção
de “embranquecimento” das futuras gerações. A maioria dos meninos que se diziam
negros ou mulatos, disseram que sua intenção era casar com brancas para ter
filhas com cabelos que “voam”, já as meninas, algumas ainda acreditam no
romantismo, onde a cor de pela não significa nada e outras, assim como os
meninos, disseram que queriam casar com brancos pelo mesmo motivo dos meninos.
O texto
discute diversas ideologias que são vistas desde o início da escravidão e que
ainda hoje vemos como afrontas ou até mesmo brincadeiras. Uma coisa é certa, a
última coisa que devemos fazer é fugir do debate ou esquecê-lo, tal discussão
dura séculos e ainda está longe de ter um fim.
Palavras são pedaços de vida!
Quais palavras temos permitido entrar na escola?
Margarida dos Santos
“Tia
Margarida, eu gosto de fazer palhaçada na sala de para todo mundo ri. Os
garotos lá da sala precisam ri, Eu quero fazer um jornal de palhaçada para todo
mundo da escola ficar rindo!” (SANTOS, 2011)
Denner
um dos alunos do projeto Lendo e Escrevendo, tem 12 anos e carrega a de
retenção a 3º série 3 anos. Denner era um aluno que costumava a quebrar o clima
na sala de aula dizendo palavras inoportunas, descrevendo atos sexuais, contado
piadas e fazia com que todos rissem mesmo que seus colegas tentassem segurar o
riso em respeito à professora.
Ele construía seu repertório através
das conversas dos mais velhos, do que via em programas de tv (Casseta e
Planeta), desenhos animados (A vaca e o frango) e programa de rádio de humor
policial, esse foi o meio que encontrou para enfrentar uma vida de negação e
sentida, dentro e fora da escola.
Smolka diz que ao dizer que a escola
tem ensinado as crianças a escrever, mas não a dizer –e sim, repetir – palavras
e frases pela escritura; não convém que elas digam o que pensam, que elas
escrevam o que dizem, que elas escrevam como dizem (porque o “como dizem”
revela as diferença”).
A professora passou um trabalho em
sala de aula que tinha a “DESCREVA SUA CASA E RUA EM QUE VOCÊ MORA”
Quais saberes estão presentes no
texto do aluno? Como lidar com toda esta diversidade de saberes presente em seu
texto? E ela diz que muito desse saberes vem da interação com outros sujeitos
mais experiente e que muitos desses saberes vêm da escola.
O texto foi deixado por ele amassado
na sala do projeto Lendo e Escrevendo, para que a professora pudesse ler Figura
3. A professora diz que tem que aproveitar o uso que ele já conseguia fazer da
linguagem escrita e também ampliar a capacidade existente.
Muitos desses alunos são
considerados analfabetos e incapazes de aprender, são considerados assim porque
fazem uso de seus conhecimentos ou os revelam de formas e em condições muito
diferentes daquelas esperadas ou idealizadas por nós na escola.
Relate o que você mais gostou de
fazer e o que menos gostou de fazer nesse ano na escola.
Denner diz, o que eu mais gostei foi
das provas, dos testes e revisões e festas e do passeio da exposição do Pelé e dos
filmes e da sala de artes e leitura e informática e educação física e o
recreio. Eu espero passar para a 4ª série e nunca mais repetir ano e espero ser
o C.D.F da 4ª série em diante e quero ser perdoado pela maldades e travessuras
e parar de implicar com os outros.
Ela pode perceber que Denner
começava a usar a escrita a seu favor, no âmbito escolar. O projeto Lendo e
Escrevendo tem fortalecido a prática de convidar os meninos e meninas a
pensarem sobre a situação de fracasso escolar a que têm sido submetidos,
cotidianamente, de modo que possam perceber possibilidades de superação.
Reflexões
sobre práticas avaliativas e o jubilamento como dispositivo excludente no
Colégio de Aplicação da UERJ
Adriana
da Silva Tomaz, Claudia Cristina dos Santos Andrade, Cristina Maria Clemente
Ribeiro, Marliza Bode de Moraes e Mônica Regina Ferreira Lins
“Jubilação pode representar um momento de grande alegria,
de um tempo usado em sua plenitude, ou representar o desligamento de alguém por
ter exercido o seu tempo dentro de uma determinada instituição. Na igreja a
jubilação representa a perda do ofício eclesiástico por limite de idade ou
renúncia, porém, os religiosos podem receber o título de emérito, ter acento e
voz ativa em concílios ou fóruns institucionais. Vários países realizam
belíssimas cerimônias de jubilação de professores que tornam docentes eméritos,
que chegam ao ápice de suas carreiras porque oferecem tempo de vida para sua
profissão. Um juiz de Direito pode, até mesmo, renunciar à jubilação, se assim
desejar e considerar estar em plenas condições de exercício.
Já os alunos de nossa escola, quando ainda não compreendem plenamente o ato de
renunciar, são afastados se ficarem reprovados por duas vezes na mesma série. O
nosso tempo de espera: dois anos.”
As autoras
trazem diversas reflexões sobre o jubilamento de crianças nos primeiros anos do
Ensino Fundamental no CAP UERJ. São levantados questionamentos sobre
democracia, avaliação e direito dos alunos, já que, ao serem jubilados os
alunos perdem o direito de permanência na escola. Além disso, esse sistema de
seleção e exclusão tem sua lógica baseada no capitalismo, aonde somente os
“sobreviventes” chegam a completar a primeira etapa do Ensino Fundamental.
Referência
OLIVEIRA,
Cristiane Gomes de. OLIVEIRA, Luiz Fernandes de. FERRAZ, Maria Cláudia de
Oliveira Reis. Escola, culturas e diferenças: experiências e desafios na
educação básica. Rio de Janeiro: Imperial Novo Milênio, 2011, p 111-210.
Livro: Planejamento:
Escola, culturas e diferenças: experiências e desafios na educação básica (Cristiane
Gomes de Oliveira, Luiz Fernandes de Ferraz e Maria Cláudia de Oliveira Reis)
Idealizado por: Eunice
Maria, Gabriella Duarte, Jéssica Vasconcelos, Jullen Monteiro e Rosangela Rocha
Escola e identidades culturais na
educação básica
“Aqui
nessa escola não se faz oração, não, professora?”
A
perspectiva cultural da religião e da diferença no currículo.
Cristiane
Gomes e Rita de Cássia Frangella.
Este texto descreve como é tratada a
discussão a respeito da religião no cotidiano escolar do ensino fundamental. O
artigo não discute se deve ou não o ensino religioso compor o currículo
escolar, no entanto, argumenta como é a problemática de crianças que discutem a
respeito da religião, e estas crianças são de diversas idades e séries
escolares.
Apesar da temática da religião estar presente
no cotidiano escolar, são discutidas estratégias que abre diálogos entre
professor e aluno. Verdadeiramente o texto nos remete a entender os direitos à
diferença, não implicando na negação, mas no desafio da relação entre todos.
Aponta para interação verbal, ou seja, para a realidade fundamental da língua.
Percebe-se uma arena de luta para desenvolver
com as crianças seus raciocínios no que diz respeito à realidade interior dos
significados de diferentes religiões e doutrinas. Como sempre, temos como
dialogo do centro das atenções, a África, para cuja finalidade nos faz
mergulhar para sua cultura e religião, que sabemos, veio dos escravos com suas
biodiversidades, refletindo aspectos positivos nas diferenças e nos costumes.
As autoras Gomes e Frangella discutem como a
visão exótica e o sincretismo pode apontar para problemas de uma visão da
África daqui e de lá. Busca expor informações não isoladas sobre a raça,
gênero, sexo e religião, e por outro lado anuncia as diferenças de lugares e
formação.
Quando a religião transforma-se em discussão,
é porque trouxe à tona as diferenças de identidades de judeus e palestinos,
ocidente e oriente, mulçumanos e hindus, então começa a rivalidade em nome do
“Pai”, e o “Pai” se sujeita aos diversos nome que Ele tem. Contudo, o texto
revela que no dia 11 de setembro viu-se a guerra de terror trazendo posições
culturais à religião, existindo reformulações no campo religioso, e como o ser
humano é tolerante ou intolerante no espaço para grupos e identidades de
diversas religiões. Isso reflete a pluralidade e pluralismo que nos indicam nos
dias de hoje muitos brasis num só
Brasil.
Voltando ao cotidiano escolar, vemos o
confronto do conhecimento, do diferente e da necessidade que uma criança antes
de ser ingressa na escola, consente em dar sentido a sua trajetória, e mesmo
assim, não sai do seu universo, mas permite que a escola a ela se acrescente.
Ao notar as perguntas que os professores fazem de animais que já não estão em
nosso meio, as respostas das crianças se faz rapidamente assim: Foi Deus, ou
Papai do Céu, ou foi Jesus!
Assim o texto não enfatiza somente a
religião, mas também atitudes das crianças, quando outros alunos dizem que Deus
não existe, surgindo reações infantis de levar às mãos a boca, como se fosse
algo pecaminoso. Mas sabemos que não há erros, somente famílias que pensam
diferentes e isto deveram respeitar, ou mesmo quando há observação de crianças
que perguntam por que não se ora antes do lanche escolar.
Levando-se em conta o que foi observado,
passamos a entender a pluralidade, o pluralismo, religiões e culturas como
sendo o limiar da ambivalência nas dimensões pedagógicas, pois estabelece
diversas redes de conhecimento, provocando discussões que realizam a expressão
viva e o fascínio das crianças à respeito do todo.
“Minha
professora pede para eu ensinar jongo para ela.”
Processos indentitários e a mediação cultural.
Claudia Cristina dos Santos Andrade, Marcos Vinícius Bezerra
Carvalho e Renato de Alcântara
No primeiro tópico os autores trazem três
cenas ocorridas em cenários diferentes com elementos comuns. Ambas acontecem em
torno de uma roda de jongo. Eles iniciam o capítulo pelas cenas com o objetivo
de partilhar a vivência e principalmente refletir sobre a identificação e o
papel das mediações.
No tópico 2, “O jongo entre a tradição e a
reinvenção , trata do contexto histórico da prática do jongo. Que consiste numa
dança marcada pelo toque do tambor onde homens e mulheres pisam com o pé direito
acompanhando o ritmo com o corpo. É uma manifestação que transita entre os
campos do sagrado e o profano, oriunda dos povos bantu. Os principais elementos do jongo
são: o terreiro, a fogueira, o tambor, o canto e a dança.
Os
pontos ou jongos narram a trajetória e os processos de reconstrução identitária
dos afrodescendentes. Relatando momentos importantes da história das
comunidades, como o tempo do cativeiro, a abolição da escravatura e as
diferenças nas relações sociais.
No
terceiro tópico “Processos indentitários e
mediação cultural (Reconhecimento e Empoderamento), os autores tratam da
importância de se oferecer a criança o acesso
à diversidade de leituras e a uma
vivência das manifestações culturais o que possibilita uma disponibilidade do
olhar para o novo, alimentando a curiosidade e a criticidade.
Os
autores conheceram o Centro cultural Jongo da Serrinha, que desenvolve um
trabalho com crianças, a partir da prática do jongo, narrando costumes
ancestrais e marcas identitárias. A ONG Jongo da Serrinha que pertence ao
Centro Cultural, conta com uma escola que atende a aproximadamente cem crianças
oferecendo aulas gratuitas de canto, percussão, jongo, dança afro, capoeira,
cultura popular, teatro, artes plásticas e circo.
Através
desse movimento ocorre um resgate da narrativa jongueira, acrescentando ao
ritual a vivência de uma escola. Os autores percebem nas falas das crianças o
reconhecimento da tradição como marca identitária, o que contribui para um
processo de empoderamento, palavra que surge através de Paulo Freire. Para o
autor o empoderamento ocorre quando o individuo ou grupo, realiza por si mesmo,
as ações que o lavam a evoluir e fortalecer.
Assim
sendo essa criança assume sua identidade e manifesta essa ação de
empoderamento, assumindo sua condição e afirmando-a perante os outros. Não se
escondendo entre os processos de assujeitamento, que segundo Foucault
representa o processo típico das relações de poder.
(...) Se a palavra é/tem sido usada para apagar a
história de muitos e negar-lhes pertencimento é possível usá-la também para
narrar as muitas histórias de processos identitários, de alianças, de práticas.
(Passos e Carvalho, 2009).
“Preto
pra não dizer negro, que é esquisito.”
Polifonia
racista e construção de identidades de adolescentes pobres no Rio de Janeiro
Claudia
Hernandez Barreiros e Jonê Carla Baião
Em uma época onde vários casos de racismo foram expostos
na mídia, o texto aborda um caso de preconceito racial entre alunos em uma
escola municipal do Rio de Janeiro. Diferente do que muitos pensam que a
miscigenação poderia contribuir para o fim de qualquer tipo de preconceito, a
miscigenação contribui para criar e fortalecer o “mito da democracia racial”,
pois no fundo, há uma raça considerada “normal” pela sociedade e o que sai
dessa normalidade sofre.
O artigo
é também uma pesquisa realizada por um grupo de pesquisas do CAp/UERJ com a
colaboração de vários professores, sendo um desses a professora que esteve
presente no relato dos alunos do bairro da Tijuca-RJ. A professora que se
declara negra (do ponto de vista étnico-racial), presenciou o relato de um
aluno que contava que sua amiga de classe (que se declara negra do ponto de
vista étnico-racial) queria lançar uma cadeira em seu amigo (do ponto de vista
étnico-racial considera-se mulato) que classe que classificou seu cabelo como
“um cabelo que não voa na garupa da moto”.
Com base
nessa discussão, a professora de Língua Portuguesa pediu que os alunos
escrevesse um texto em que declarasse sua cor de pele e como desejaria que
fosse seu/sua futuro (a) namorado (a). O que pode ser analisado foi à intenção
de “embranquecimento” das futuras gerações. A maioria dos meninos que se diziam
negros ou mulatos, disseram que sua intenção era casar com brancas para ter
filhas com cabelos que “voam”, já as meninas, algumas ainda acreditam no
romantismo, onde a cor de pela não significa nada e outras, assim como os
meninos, disseram que queriam casar com brancos pelo mesmo motivo dos meninos.
O texto
discute diversas ideologias que são vistas desde o início da escravidão e que
ainda hoje vemos como afrontas ou até mesmo brincadeiras. Uma coisa é certa, a
última coisa que devemos fazer é fugir do debate ou esquecê-lo, tal discussão
dura séculos e ainda está longe de ter um fim.
Palavras são pedaços de vida!
Quais palavras temos permitido entrar na escola?
Margarida dos Santos
“Tia
Margarida, eu gosto de fazer palhaçada na sala de para todo mundo ri. Os
garotos lá da sala precisam ri, Eu quero fazer um jornal de palhaçada para todo
mundo da escola ficar rindo!” (SANTOS, 2011)
Denner
um dos alunos do projeto Lendo e Escrevendo, tem 12 anos e carrega a de
retenção a 3º série 3 anos. Denner era um aluno que costumava a quebrar o clima
na sala de aula dizendo palavras inoportunas, descrevendo atos sexuais, contado
piadas e fazia com que todos rissem mesmo que seus colegas tentassem segurar o
riso em respeito à professora.
Ele construía seu repertório através
das conversas dos mais velhos, do que via em programas de tv (Casseta e
Planeta), desenhos animados (A vaca e o frango) e programa de rádio de humor
policial, esse foi o meio que encontrou para enfrentar uma vida de negação e
sentida, dentro e fora da escola.
Smolka diz que ao dizer que a escola
tem ensinado as crianças a escrever, mas não a dizer –e sim, repetir – palavras
e frases pela escritura; não convém que elas digam o que pensam, que elas
escrevam o que dizem, que elas escrevam como dizem (porque o “como dizem”
revela as diferença”).
A professora passou um trabalho em
sala de aula que tinha a “DESCREVA SUA CASA E RUA EM QUE VOCÊ MORA”
Quais saberes estão presentes no
texto do aluno? Como lidar com toda esta diversidade de saberes presente em seu
texto? E ela diz que muito desse saberes vem da interação com outros sujeitos
mais experiente e que muitos desses saberes vêm da escola.
O texto foi deixado por ele amassado
na sala do projeto Lendo e Escrevendo, para que a professora pudesse ler Figura
3. A professora diz que tem que aproveitar o uso que ele já conseguia fazer da
linguagem escrita e também ampliar a capacidade existente.
Muitos desses alunos são
considerados analfabetos e incapazes de aprender, são considerados assim porque
fazem uso de seus conhecimentos ou os revelam de formas e em condições muito
diferentes daquelas esperadas ou idealizadas por nós na escola.
Relate o que você mais gostou de
fazer e o que menos gostou de fazer nesse ano na escola.
Denner diz, o que eu mais gostei foi
das provas, dos testes e revisões e festas e do passeio da exposição do Pelé e dos
filmes e da sala de artes e leitura e informática e educação física e o
recreio. Eu espero passar para a 4ª série e nunca mais repetir ano e espero ser
o C.D.F da 4ª série em diante e quero ser perdoado pela maldades e travessuras
e parar de implicar com os outros.
Ela pode perceber que Denner
começava a usar a escrita a seu favor, no âmbito escolar. O projeto Lendo e
Escrevendo tem fortalecido a prática de convidar os meninos e meninas a
pensarem sobre a situação de fracasso escolar a que têm sido submetidos,
cotidianamente, de modo que possam perceber possibilidades de superação.
Reflexões
sobre práticas avaliativas e o jubilamento como dispositivo excludente no
Colégio de Aplicação da UERJ
Adriana
da Silva Tomaz, Claudia Cristina dos Santos Andrade, Cristina Maria Clemente
Ribeiro, Marliza Bode de Moraes e Mônica Regina Ferreira Lins
“Jubilação pode representar um momento de grande alegria,
de um tempo usado em sua plenitude, ou representar o desligamento de alguém por
ter exercido o seu tempo dentro de uma determinada instituição. Na igreja a
jubilação representa a perda do ofício eclesiástico por limite de idade ou
renúncia, porém, os religiosos podem receber o título de emérito, ter acento e
voz ativa em concílios ou fóruns institucionais. Vários países realizam
belíssimas cerimônias de jubilação de professores que tornam docentes eméritos,
que chegam ao ápice de suas carreiras porque oferecem tempo de vida para sua
profissão. Um juiz de Direito pode, até mesmo, renunciar à jubilação, se assim
desejar e considerar estar em plenas condições de exercício.
Já os alunos de nossa escola, quando ainda não compreendem plenamente o ato de renunciar, são afastados se ficarem reprovados por duas vezes na mesma série. O nosso tempo de espera: dois anos.”
Já os alunos de nossa escola, quando ainda não compreendem plenamente o ato de renunciar, são afastados se ficarem reprovados por duas vezes na mesma série. O nosso tempo de espera: dois anos.”
As autoras
trazem diversas reflexões sobre o jubilamento de crianças nos primeiros anos do
Ensino Fundamental no CAP UERJ. São levantados questionamentos sobre
democracia, avaliação e direito dos alunos, já que, ao serem jubilados os
alunos perdem o direito de permanência na escola. Além disso, esse sistema de
seleção e exclusão tem sua lógica baseada no capitalismo, aonde somente os
“sobreviventes” chegam a completar a primeira etapa do Ensino Fundamental.
Referência
OLIVEIRA,
Cristiane Gomes de. OLIVEIRA, Luiz Fernandes de. FERRAZ, Maria Cláudia de
Oliveira Reis. Escola, culturas e diferenças: experiências e desafios na
educação básica. Rio de Janeiro: Imperial Novo Milênio, 2011, p 111-210.
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